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terça-feira, junho 05, 2007

No Blog do Alon Feuerwerk, o comentario

Terça-feira, 5 de Junho de 2007

O que fazer? (05/06)
A ocupação da reitoria da USP foi um dos pontos do Roda Viva (TV Cultura) de ontem, no qual entrevistamos o professor Roberto Romano, da Unicamp. O tempo foi infelizmente curto para aprofundar o debate sobre o tema. A conversa girou em torno da autonomia universitária e logo terminou. Pena. Houvesse mais tempo e teríamos polemizado sobre a raiz da ocupação: uma feroz luta pelo poder na universidade. Inicialmente, como se sabe, a reitoria estimulou a mobilização estudantil. O objetivo do establishment universitário era usar os estudantes como massa de manobra para emparedar o governador José Serra e levá-lo a atenuar os controles estatais sobre a execução orçamentária nas universidades públicas. Ou seja, no começo era reitoria + ocupantes versus governo estadual. Realisticamente falando, essa aliança obteve do governo uma concessão parcial, com o decreto declaratório que assegurou formalmente a autonomia das universidades e dissipou as preocupações dos reitores. Com seu próprio objetivo atingido, a reitoria trata agora de pacificar politicamente seus ex-aliados ocupantes. Endurece com eles. Mas se o programa minimalista da reitoria foi alcançado o mesmo não se pode dizer do programa maximalista dos ocupantes, que desejam 1) a revogação pura e simples dos decretos que aumentam o controle administrativo do estado sobre as suas universidades públicas e 2) a derrubada do poder constituído na universidade e sua substituição por uma "estatuinte". Ultrapassada a fase "liberal-burguesa" da ocupação, os ocupantes são tentados pelo "assalto aos céus". Entretanto, a fase da luta política já é outra: os ocupantes enfrentam agora a aliança entre a reitoria e o governo estadual. Pois para a reitoria basta a autonomia universitária. Já está de bom tamanho. Para os ocupantes, ao contrário, a luta de nada terá servido se eles próprios não conquistarem mais poder na universidade. Por isso é que os líderes do movimento de ocupação estão num mato sem cachorro. Deixaram passar a chance de declarar vitória quando alcançaram o programa mínimo e agora não têm força para impor o programa máximo. Não contam mais, tampouco, com as simpatias da imprensa que já os apoiou na cruzada "autonomista" -e que, alcançado o objetivo "liberal-burguês", tirou o time junto com os reitores. Em revoluções, o custo de errar politicamente é sempre alto (vejam o caso da RCTV na Venezuela). Erguer a bandeira da autonomia universitária quando não se tem o poder na universidade (nem perspectiva de alcancá-lo) é, como venho dizendo, engrossar as fileiras do atraso e do conservadorismo. Eu preferia quando o movimento estudantil pedia uma universidade voltada para os reais interesses da população, para os objetivos nacionais e aberta ao controle democrático da sociedade. Mas eu respeito os que hoje ocupam a reitoria da USP. São lutadores e têm o seu valor. Ainda que, circunstancialmente, possam estar servindo a quem deveriam combater. Por que? Porque se numa instituição como a USP faltam professores, falta moradia, faltam bons prédios e falta boa comida é porque talvez esteja na hora de aumentar -e não diminuir- o controle externo sobre como é gasta a montanha de dinheiro que o povo coloca todo ano na universidade.

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