Powered By Blogger

quinta-feira, junho 07, 2007

Blog Angelo da C.I.A. [http://angelodacia.blogspot.com/]

5.6.07
Romano no Roda Viva e um papo sobre Moral

A entrevista de Roberto Romano foi boa, na medida do possível. A clareza das idéias e a inteligência de Romano não foram totalmente expostas pelo que me pareceu ser uma certa timidez do Filósofo. Desde o primeiro bloco, em que Tereza Cruvinel deixou bem claro que não aceitaria que se falasse algo contra o governo Lula, Romano mostrou-se acanhado e somente com o decorrer do programa se soltou.

Em muitos momentos incomodou ouvir respostas em que Romano começava com "é difícil responder a isto". Me pareceu até que Fernando Rodrigues foi irônico num dos primeiros blocos quando, após sua pergunta, emendou um "você acha isto certo ou isto também é difícil de responder?". Outro ponto fraco foi o grande tempo perdido com o debate sobre a invasão da reitoria da USP, um assunto que não foi abordado sob o ponto de vista da entrevista, ou seja, o aspecto ético da manifestação. Neste trecho também ficou claro que Romano tinha certo receio de criticar a esquerda, quando ele falou que o movimento era manipulado por grupos de esquerda, era como se estivesse a pedir desculpas por falar aquilo e já esperando réplicas. Por sorte Tereza Cruvinel é especialista apenas em advogar causas do governo do PT e não em assuntos gerais do esquerdismo, ou novamente Roberto Romano teria que se explicar e enfrentar a furiosa cara da jornalista carioca.
A se destacar também as intervenções de Alon Feuerwelker. A última delas, uma pergunta muito boa que mereceria uma resposta clara e contundente permaneceu sem resposta: Como deve um governo proceder para renovar ou não as concessões do uso de banda de rádio e TV, já que a regra é as concessões se perpetuarem.

Quem não conhece, recomendo acessar o blogue deste jornalista. Ex-membro do Partido Comunista, ex-assessor de Marta e ex-assessor de José Serra, Feuerwelker é para mim o único colunista de esquerda com cultura e espírito verdadeiramente democrático. Mesmo quando discordo das opiniões dela, o que é regra, admiro a forma como argumenta pois sempre exige raciocínio e atenção. Dia desses discordei justamente dele quando o mesmo defendeu a cassação da concessão da RCTV.
Passada a entrevista ficou a impressão de que o assunto principal da entrevista não foi totalmente explorado justamente pela partidarização do debate, que tinha do lado os Cruvinel e Alon e de outro Carlos Marchi e o jornalista da VEJA ( que, a muito custo, conseguiu fazer com que Romano falasse com todas as letras que era contra a invasão da reitoria da USP ).
Em alguns momentos tentou-se levantar o debate: O que fazer para acabar com esta roubalheira toda que toma conta do país? Primeiro de tudo, vale pensar no porquê de estarmos onde estamos.

A liderança

Acho que poucos discordariam que uma casa com rígidos controles comportamentais e corretude de ação por parte dos pais é menos propícia a gerar distúrbios nas crianças, sejam psicológicos ou criminais. Da mesma forma que uma família em que o pai é alcóolatra e bate na mãe, em que ambos concordam em puxar "gatos" de água, luz, telefone ou TV é muito mais propício a que saia dali um futuro criminoso.

Em toda estrutura hierárquica quem está no topo sempre projeta sobre a base o respeito, seja pela admiração ou pela temeridade. Um líder, seja familiar, estatal ou empresarial só permanece como tal enquanto houver esta autoridade pela força ou pelo mérito. E é papel de todo líder, conforme a finalidade e objetivo de seus seguidores, tentar ser o melhor no que faz e sempre dar o bom exemplo. Um chefe que chega tarde ao trabalho e vai embora cedo desperta a raiva e desmotiva sua equipe; um pai que desrespeita a esposa perde a autoridade moral de cobrar de seu filho que tenha respeito com a mãe.
Parece claro neste ponto que estou falando da liderança exercida por Luís Inácio Lula da Silva, nosso presidente. Como ocupante do mais importante emprego de um país, o chefe de estado, ainda mais em países democráticos, deve ser um exemplo de corretude, projetar o respeito de seus cidadãos e ser o maior defensor da moral e dos bons costumes de um povo. E o que é o personagem Lula: Alguém que não se importa em defender pessoas comprometidas até o pescoço com corrupção, uma pessoa que não se cansa de desdenhar dos que estudam e têm cultura em oposição à própria história, que se é verdade que venceu com muita luta e por ter carisma, também o é que há muito tempo ele já poderia ter saído de seu estado de "ignorante profissional". Lula gosta de falar que venceu "por não ter cultura" quando na verdade ele o conseguiu "apesar de não ter cultura". E, se já era uma pessoa realizada financeiramente desde os anos 80 e não correu atrás daquilo que não conseguira quando não tinha dinheiro, o fez por uma escolha preguiçosa mas também marqueteira ( não podia deixar de lado a imagem de "homem do povo", como se todos homens do povo fossem ignorantes ).

Muitos acreditam que a corrupção está apenas aparecendo mais agora do que antes porque há mais investigações. Eu acho que sim, há mais investigações ( basta olhar o número de vagas que foram preenchidas na Polícia Federal desde 2001 em comparação com os 5 anos anteriores ) que produzem mais resultados. Mas esta evolução é natural, é um processo contínuo. Só que nunca o ambiente foi mais propício para que os corruptos se expandissem e se tornassem tão ousados! Nunca na história deste país...

O PT e Lula são um péssimo exemplo para o Brasil! Até hoje, qual foi a condenação pública feita por um ou outro para figurões dos grandes escândalos como Palocci, Waldomiro Diniz, Delúbio Soares, Sílvio Pereira... Pelo contrário, volta e meia Lula, em plena turbulência das crises, vinha em defesa deles para chamá-los de "meninos" ou para falar que apenas cometeram "grosserias". Qual é o exemplo que esta gente passa para o "inconsciente coletivo"? O de que o crime compensa, o de que roubar não é tão grave assim. "Se até o presidente não liga, porque ligaria eu? ".

Indo além: O PT é pior do que o PMDB ou PFL ou o PSDB? Sim, é pior! Nunca um partido como um todo esteve tão integrado em um projeto de poder. PFL, PMDB e mesmo o PSDB são a reunião de interesses e egos que se agrupam para efetivar seus projetos imediatos de poder pessoal. O PT não! É por isto que o PT se fecha e, apesar de todos os crimes encontrados, de tudo que se provou contra os vários figurões de outrora, os afastados do centro do poder permanecem em silêncio e o partido não mexe com eles. É um pensamento a longo prazo, os deslizes e contratempos de agora não podem, em nenhuma hipótese, atrapalhar o objetivo maior que envolve a todos.

Esta coisa chamada povo brasileiro

A liderança que o PT exerce sobre o Brasil não caiu do céu, é óbvio. Petistas chegaram onde estão e se comportam desta forma por haver um ambiente propício. É um círculo vicioso: O "povo" é tolerante com a corrupção e o PT não se importa em andar com corruptos.

Sim, o povo brasileiro é muito tolerante com o crime, em especial o de corrupção. Um exemplo muito rápido: Há 4 anos atrás, na empresa que estava na época fui incubido da missão de ciceronear um funcionário chileno que fazia estágio por aqui. No primeiro dia em que fomos almoçar, solicitou um recibo do caixa do restaurante tão logo pagou sua conta. Foi então que ouviu a pergunta do caixa: "Você quer que eu faça o recibo de quanto?". Demorei longos e constrangedores 2 minutos para explicar para ele o que é muito comum por aqui: Faz-se um recibo independente do valor consumido, com o intuito do funcionário ficar com a diferença entre o que ele poderia gastar e o que efetivamente gastou.
É preciso deixar bem claro que nosso povo é corrupto sim. E podem incluir neste "povo", com honrarias, nossa elite. Quem me acompanha aqui há algum tempo sabe o quanto me causava asco ver a reabilitação que a "high society" paulista garantiu a Palocci, especialmente durante a campanha para deputado federal. Passou a eleição e esta raçazinha da elite sem-vergonha continua a promover o pior Ministro da Fazenda da "história deste país", agora comprando um livro lançado por ele e que por muitas semanas figurou entre os mais vendidos. Afinal de contas, o que esta gente instruída buscaria no livro de alguém que no topo do poder público usou toda a máquina estatal para massacrar um coitado? Um coitado que não ganhará na vida toda o que a Prefeitura de Ribeirão desviou em um ano da gestão Palocci! Um coitado que, segundo consta, permanece desempregado desde que cometeu o absurdo de dizer a verdade que incriminou uma autoridade.

E a solução ?

Aqui eu vou pelos caminhos do Romano e digo que esta resposta é muito difícil! O que eu escrevi até agora é que tanto o povão quanto as elites são moralmente terríveis, então o que fazer? Vou me apegar a um ponto que acho essencial para uma reviravolta.

A principal causa por termos chegado a este ponto é nossa permissividade àquilo que Bastiat chamava de total perversão da Lei. Não vivi outros tempos mas imagino que dificilmente antes da redemocratização houvesse tanto atalhos legais para que a Lei não seja efetivamente aplicada. Por motivos óbvios, também antes o jeito esquerdista de ver a ordem legal não era tão disseminado e poderoso como hoje em dia e o resultado é vermos o tal do Direito Alternativo se expandindo, juntamente como a tal corrente apontada por Reinaldo Azevedo, a do Direito Achado na Rua.

É vital para diminuirmos a corrupção em todos os níveis que a nossa Constituição e principalmente nosso Código Penal comecem a ser seguidos efetivamente. Não resta dúvidas de que ambas contém equívocos e idéias ultrapassadas mas Leis erradas ainda são um pouquinho melhor do que não haver Lei nenhuma. Se é impossível prender a todos os brasileiros que desrespeitam a Lei, apliquem-se-lhes então multas ou penas alternativas! Cada vez que um Zuleido é algemado e solto na semana que vem, quando vemos Maluf, Genoíno, Palocci e Jáder Barbalho passeando livremente por Brasília e não sofrendo nem ao menos multas por tudo o que fizeram estamos presenciando a descaracterização da Lei, a perda de sentido das Leis. Se o estado possui suas leis e não as usa para punir, para que elas servem então?

Comecei este artigo falando sobre liderança por poder ou mérito. A Lei de um estado democrático deve fazer uso de ambas as características. O Poder de punir, gerando temeridade em quem porventura imaginar transgredí-la. E o mérito de ser justa e merecer o respeito dos cidadãos que a seguem. Quando a Lei é seguida irrestritamente seus maiores defeitos tornam-se mais visíveis e mais gritantes, daí a que aplicar corretamente nossa estrutura legal seria bom também por mobilizar a todos em busca de melhorias desta mesma estrutura.

Sinceramente eu gostaria de terminar escrevendo que há espaço para esta Revolução que seria a plena Aplicação das Leis. Como simples blogueiro, o máximo de ousadia a que chego é dar minha opinião neste tema. Já como conhecedor da nossa realidade, o máximo de esperança a que me agarro é a de somente esperar que as coisas não piorem ainda mais. Vã, vã esperança.

Arquivo do blog